Poucos fenómenos sociais foram tão relevantes para as sociedades pré-modernas do Sul da Europa como os vínculos (morgadios, capelas). Estas instituições, que constituem o objecto de estudo do projecto VINCULUM e que são conjuntamente analisadas sob o termo de vinculação, desenvolveram-se como uma forma de manutenção do património dentro de formações familiares particulares, mediante a criação de um corpo jurídico administrado por sucessores especificamente escolhidos para o efeito, num horizonte de perpetuidade.
O GUIA DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO VINCULAR (VINCULUM INFORMATION SYSTEM GUIDE – VISG) , que aqui se apresenta na sua versão digital, tem como objetivo reconstruir o sistema de funcionamento institucional, administrativo e produtor de informação, criado pela vinculação entre os séculos XIV e XVII, tanto a nível interno como externo. Divide-se em duas grandes partes: o design da rede institucional e as formas de produção da informação, de documentalização e de constituição de arquivos.
Neste produto do subprojecto 1 do projeto VINCULUM, o problema de investigação de base passa por inverter o conhecimento atual sobre os arquivos relacionados com os vínculos, partindo dos arquivos históricos como hoje os conhecemos e perguntando “De onde vieram? Porquê e como?”. Alinha-se assim com as mais recentes propostas teóricas sobre o repensar do papel das “fontes” na escrita da História, que vieram sublinhar que todos os documentos arquivísticos, antes de o serem, foram documentos do seu próprio tempo; e foram-no também na medida em que, de acordo com as formulações da Arquivística e da Ciência da Informação, o ato informacional antecede a documentalização e o documento.
Numa conceção da organização e uso da documentação que pretende respeitar a estrutura da produção informacional e documental, é indispensável conhecer as instituições que produziram essa mesma informação e o seu modo de funcionamento em termos administrativos. É de seguida fundamental descrever os documentos na sua integralidade, e indicar as balizas legais que circunscrevem a vida dos vínculos.
Deste modo, o VISG foi organizado em três secções centrais, que permitem compreender em profundidade os múltiplos aspetos subjacentes ao sistema informacional vincular:
Instituições que produziram, receberam e/ou conservaram informação sobre a vinculação, nomeadamente a Coroa, a Igreja, e os vínculos em si;
Documentos produzidos pela vinculação, nomeadamente as tipologias documentais identificadas e a sua análise diplomática;
Legislação civil e eclesiástica que regulou o funcionamento da vinculação entre os séculos;
Às quais se juntam os apartados dedicados ao aparato crítico, que compreende uma apresentação alargada dos principais repositórios de informação arquivística do projeto.
Referências bibliográficas, fontes e instrumentos de trabalho utilizados na elaboração dos textos do Guia do Sistema de Informação Vincular;
Arquivos – diz respeito aos conjuntos documentais ou fundos onde foi conservada informação sobre vinculação, nomeadamente aqueles que foram considerados mais relevantes para a elaboração do Guia do Sistema de Informação Vincular. Disponibilizam-se os estudos aprofundados sobre o estado de conservação e descrição dos principais repositórios de informação, que, ao longo do trabalho de levantamento documental, foi necessário realizar para orientação da equipa.
As diferentes partes do VISG complementam-se entre si, estando prevista uma referenciação digital cruzada, na sua versão final. Encontra-se ainda em elaboração um texto síntese sobre o funcionamento global do sistema, a disponibilizar na mesma altura.
A análise do VISG deve ser complementada com a consulta da Base de Dados de Vínculos, outro output do subprojecto 1 do projeto VINCULUM, disponível em https://www.vinculum-database.fcsh.unl.pt/. Por sua vez, a cabal compreensão e a melhor valorização da Base implicam o uso do VISG.